Pirataria, censura e a mágica do Paulo Coelho

Como diria aquela velha propaganda da antiga companhia de transportes: "O mundo gira e a Lusitana roda". E as coisas tem mudado cada vez mais. Durante um bom tempo todo e qualquer artista se debatia em cólicas quando ouvia falar do seu trabalho sendo baixado na internet, sem que ele recebesse nenhum trocado por causa disso. Processos gigantes contra usuários que praticavam a questionável arte da pirataria aconteceram, as gravadoras e editoras organizando verdadeiras caças às bruxas pelo mundo, tentando criar exemplos do que poderia acontecer com qualquer usuário que tivesse uma única obra pirateada no seu computador. A idéia deles na época era uma internet tão policiada quanto o mundo de 1984 (um pouco de cultura, galera...), onde o Big Brother (não o da Globo) estaria de olho em você.

Aos poucos, alguns artistas se libertando da canga imposta a eles por seus contratos foram vendo que a popularização da rede mundial e sua estrutura anárquica, na qual todos poderiam estar em contato com todos, poderiam lhes ajudar muito mais do que atrapalhar. Fomos vendo então o surgimento das primeiras lojas virtuais, das músicas, contos, trailers e outras formas de manifestações artísticas sendo lançadas diretamente no site dos artistas parar servirem de incentivo para que os internautas caso gostassem daquilo, pagassem pelo produto final. Isso não acabou com a pirataria, mas os primeiros a fazer esse tipo de coisa, são lembrados como pioneiros nas disputas entre gravadoras e usuários da internet. Até aqui em Terra Brasilis, as coisas iam se tornando um pouco mais organizadas. Tanto que uma gravadora inteira, a Trama, passou a liberar músicas e vídeos dos seus artistas no seu site, de grátis. Hoje em dia, eles tem um sistema que paga aos artistas pelos downloads que os usuários fazem no site. Quanto mais acessos, mais dinheiro o artista ganha. Tudo parecia muito bom, tudo parecia muito bem, mas ainda teríamos surpresas vindo por aí.

No final de 2007, o Radiohead (que eu acho extremamente depressivo) sacudiu o mundo da música. Chegou com os dois pés no peito de todo mundo. Depois de fazerem os fãs esperarem por anos pelo novo CD deles, resolveram fazer uma estratégia (do grego stratègós...) diferente de tudo que vinha sendo feito até então. Simplesmente pegaram o cd inteiro, com todas as músicas completas e colocaram no site à completa disposição dos fãs. E eles ainda decidiriam quanto valia aquela obra, podendo pagar valores entre 0 e 99 libras. Foi um susto, todo mundo ficou chocado, disseram que eles iam quebrar a cara e tudo mais. Passou 2007, In Rainbows foi lançado nas lojas e segundo a própria banda a bolacha está indo muito bem, obrigado. Foi uma mostra que os paradigmas estavam realmente mudando.

Enquanto todos olhavam para fora, um artista brasileiro fez uma coisa bem parecida, mas de uma forma um bocado mais anárquica. Em junho de 2007, sem alarde, sem querer fazer marola e nem posar de dono da verdade, o imortal Paulo Coelho, o Dom Paulete que foi parceiro de Raul Seixas, o bruxo escritor romances que são quase livros de auto-ajuda resolveu colocar sua obra a disposição do grande público. Mas diferente do Radiohead, que colocou somente o seu mais novo CD, Paulo Coelho foi muito mais longe. Fazendo um trabalho de garimpo por redes de torrents, e-mule e outras redes de compartilhamento de arquivos, ele montou o Pirate Coelho, um blog que na própria definição se diz: um website não(?) oficial para os fãs! Lá ele coloca os links de todos os seus livros que ele vai achando espalhados pela net para que todos possam ter acesso ao seu trabalho. São livros em várias línguas, desde o português, passando pelos manjados inglês e espanhol e indo até o russo e o polônes. Com alguns audiobooks em sueco para dar um tempero. E sem pedir nada em troca, sem nem perguntar para os fãs quanto eles pagariam pelos livros. Em alguns posts ele até incentiva que as pessoas "baixem" os livros, leiam e compartilhem com outras pessoas. Você pode não gostar do cara, achar os livros dele chatos e outras coisas mais, mas você tem que admitir, tem que ter peito pra fazer uma coisa desse tipo.

Não acho que com isso ele esteja dando um tiro no pé, que seus livros vão parar de vender, nem nada desse tipo. Quem gosta de ler, sabe que nada substitui o prazer de segurar um livro nas mãos, sentir o papel, elogiar ou reclamar para si mesmo da diagramação do livro e outros detalhes desse tipo. Acho que quem vai baixar os livros dele no site, ou são leitores que já conhecem o seu trabalho e que por um motivo ou outro não conseguiram encontrar algum livro (eu mesmo nunca consegui achar "O Manual do Guerreiro da Luz" e essa vai ser minha oportunidade de lê-lo), ou serão pessoas que já ouviram falar do trabalho dele, que receberam indicações de amigos, mas que tem uma certa resistência a comprar um livro do Paulo Coelho, com medo de não gostar. Será a oportunidade de pegarem um ou dois livros, lerem e se gostarem comprarem os outros. Acredito que esse blog, só venha para somar na divulgação de seus trabalhos. Até o último livro do cara, "A Bruxa de Portobello" tá lá pra galera ler. Palmas para Dom Paulete e que partindo do seu exemplo, mais artistas resolvam agraciar os seus fãs com atitudes como essa. Abraços.

P.S.: Fiz esse post com o texto separado em páragrafos, já que o Nicholas falou que um dos meus últimos textos ficou muito cansativo por ser escrito sem parágrafos. Tá melhor agora, Nicholas??? Já tô até vendo. Daqui a pouco neguinho vai pedir preu gravar um podcast com os textos, pq assim fica menos cansativo. Bando de fanfarrão.

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